A história dos “Predinhos da Hípica”, em Pinheiros

Foi publicada uma matéria sobre os Predinhos da Hípica com autoria e fotos de Gabrielli Menezes para o site São Paulo para Curiosos. Ela ficou…

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Foi publicada uma matéria sobre os Predinhos da Hípica com autoria e fotos de Gabrielli Menezes para o site São Paulo para Curiosos. Ela ficou tão legal e completa que achamos legal compartilhar!

As construções tratadas na matéria foram criadas com o intuito de se tornarem patrimônio da família e deixadas como herança às futuras gerações. O interessante desse conjunto é que ele acabou entrando em processo de tombamento pela Prefeitura Municipal de São Paulo e foi inserido no novo zoneamento da cidade, ZEPEC – Zonas Especiais de Preservação Cultural.

Confira na íntegra:

“O imigrante libanês Raduan Dabus atravessou o mundo com apenas 14 anos, acompanhado de um irmão, Said, dois anos mais novo. Trabalhou como mascate na cidade de Cerqueira César, a 280 quilômetros de São Paulo, onde chegou a ser dono de uma loja de tecidos. Casou-se aos 22 anos com Salime, também libanesa, e tiveram 11 filhos. Cansado do contato com o público, preferiu aproveitar o grande momento do café e passou a trabalhar com exportação em Piraju, também no interior de São Paulo. Os negócios com a exportação do café prosperaram bastante. Resolveu então se mudar para uma grande casa na Rua Bela Cintra, na capital. Viu seu primeiro filho homem, Félix Dabus, se formar em Engenharia. Em 1939, Raduan comprou o terreno que pertencia à Sociedade Hípica Paulista e nele ergueu um empreendimento que virou cartão-postal do valorizado bairro de Pinheiros.

Raduan e Félix construíram 19 prédios com térreo e dois andares, dispostos um ao lado do outro. Eles ocupam nove quadras, delimitadas pelas ruas Arthur de Azevedo, Teodoro Sampaio, Mourato Coelho e avenida Pedroso de Moraes. No bairro, os imóveis ganharam os apelidos de “Predinhos da Hípica” ou “Predinhos de Pinheiros”. Construíram também três prédios maiores na Rua Teodoro Sampaio, com 60 lojas na parte térrea, e mais 14 sobrados nas vizinhanças dos predinhos.

Por causa da Segunda Guerra Mundial, os primeiros prédios só ficaram prontos em 1948. Todos os edifícios possuem duas entradas e cada uma delas dá acesso a seis apartamentos de dois ou três quartos, cujas áreas úteis variam entre 120 e 140 metros quadrados. Os prédios têm homogeneidade na construção, mas se diferem em alguns detalhes (tamanho de cerca, cor da parede, estilo do jardim).

Com a morte de Dabus, em outubro de 1957, aos 77 anos, as propriedades foram divididas entre os 11 filhos. Metade do empreendimento ainda está nas mãos da família e aproximadamente vinte descendentes de Raduan vivem nos apartamentos ou sobrados do bairro.

Um deles é Luiz Antônio Dabus, neto de Raduan e filho de Nair, 10ª filha do casal. Ele é síndico do condomínio Alvorada, que fica na Rua Antonio Bicudo. A psicóloga Denise Leite Fernandes, 57 anos, aluga dois apartamentos ali. “Trabalho em um e moro em outro”, conta. “Já estou aqui há 14 anos”. A equipe do Blog do Curioso visitou o apartamento de propriedade da mãe de Luiz Antônio alugado para o consultório de psicologia (fotos abaixo). “Esse é um dos mais conservados do Alvorada. O piso vermelho tradicional, as janelas de ferro, as persianas e os tacos, ambos de madeira, permanecem originais. Decidimos mudar a pedra da pia da cozinha e tiramos o mármore. Essa foi a única alteração e sempre que vejo me arrependo dela”, confessa Luiz Antônio, que, além de síndico, comanda as restaurações dos apartamentos que ainda são da família e procura ao máximo manter a originalidade dos imóveis.

Algumas terras da área foram doadas pelos Dabus, como, por exemplo, o local onde hoje está a Escola Estadual Fernão Dias Paes. A obra da Fernão Dias, na Pedroso de Moraes, também foi realizada de forma a se encaixar na estética do bairro. Manteve a base estrutural de pedra dos prédios e as telhas paulistinhas, feitas de barro. Outros terrenos foram deixados para membros da família e posteriormente vendidos a construtoras interessadas. Foi o caso do Edifício Barão de Mauá, localizado na Rua Simão Álvares esquina com a Rua Benjamin Egas. Os 17 andares e o estilo neoclássico geraram controvérsias na época e são, até hoje, contestados pelos adeptos do art déco – estilo decorativo que surgiu na Europa na década de 1920 e, dez anos depois, chegou ao Brasil sendo incorporado principalmente pela arquitetura, como nos predinhos de Raduan.

É impossível não notar a relação de amor entre os predinhos e seus moradores – que têm até um grupo no Facebook para discutir melhoras e divulgar trabalhos. O grupo foi criado por Fernanda Salles, publicitária de 47 anos, que mora num dos apartamentos da Rua Sebastião Velho. Diversas ações são estimuladas por ela, como o plantio de árvores e o tombamento da área, processo que se arrasta na Prefeitura de São Paulo há 12 anos. A jornalista Fabiana Badra é outra dos 123 membros do grupo, tem 51 anos e mora há 25 na Navarro de Andrade. Ela conseguiu que a Sabesp tirasse os remendos de asfalto que eram colocados a cada buraco aberto em sua rua e voltasse com os paralelepípedos.

Duas garagens dos “Predinhos da Hípica” viraram também negócios de sucesso. A Na Garagem Hamburgueria Artesanal, na Benjamin Egas, abriu as portas em 2013 e vende hoje cerca de 2.500 lanches por mês. O jornalista Ricardo Lombardi, 45 anos, montou o sebo Desculpe a Poeira na Sebastião Velho. Desde 2014, ele aluga a garagem que pertence à mãe (apenas 80% dos apartamentos contam com uma vaga de garagem e algumas ruas têm zona Azul), que mora num dos apartamentos desde 1980. “Eu usava essa garagem para guardar meu carro quando tinha 18 anos”, lembra. “Quando saí de casa, ela começou a alugá-la para alguns comerciantes”. O endereço já abrigou uma ótica e um antiquário. “Aqui é um lugar perdido no meio da cidade”, diz Lombardi. “Ao mesmo tempo em que dá acesso com facilidade às principais avenidas da cidade, esconde a tranquilidade do interior.”

A procura pelos apartamentos é tanta que há sempre uma lista de espera. Sem salão de festas, elevador, guarita, quadra, parquinho, piscina e nenhum outro símbolo de lazer ou segurança, o aluguel fica entre 3.500 e 5 mil reais. Artistas e profissionais da área de comunicação formam o principal público do local. A Rua Sebastião Velho foi até apelidada de “Sebastião Bach” depois que Fernanda Salles contou um total de 15 pianos nos apartamentos e casas dessa rua.

O desejo maior de moradores e parentes é que uma das ruas mudasse de nome para Raduan Dabus. A homenagem já foi feita, mas a rua fica no Parque Continental, a 7 quilômetros dos prédios que são o charme de Pinheiros.”

Via: São Paulo para Curiosos

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