A democratização do Design
Novas alianças entre designers, produtores e usuários devem ser criadas. A tecnologia fornecerá ferramentas ilimitadas para que essa…
Novas alianças entre designers, produtores e usuários devem ser criadas. A tecnologia fornecerá ferramentas ilimitadas para que essa…
Novas alianças entre designers, produtores e usuários devem ser criadas. A tecnologia fornecerá ferramentas ilimitadas para que essa participação deixe de ser um mito. Essas ideias sintetizam o pensamento do designer austro-americano Victor Papanek, autor de Design para um mundo real: Ecologia Humana e Mudança Social (1971) e Móveis Nômades (1973). Suas obras anteciparam conceitos como open design, participação, inovação aberta, incubação — entre outros termos que hoje são uma realidade. Um exemplo disso tudo colocado em prática como modelo de negócio está em operação há dois anos: é o Studio dLux, fundado pelo jovem arquiteto paulistano Denis Fuzii.
Formado na faculdade Belas Artes, ele, assim como muitos profissionais de sua área, bebeu muito dessa fonte. Da inspiração, criou um escritório de arquitetura e design que elabora e executa projetos digitalmente e disponibiliza gratuitamente parte de suas criações para download em uma plataforma open source. Tudo isso da garagem de casa, onde hoje divide o espaço com mais dois arquitetos e duas estagiárias.
QUANDO O INSIGHT VEM DO COTIDIANO DE TRABALHO
Tudo começou com uma encomenda bastante específica. Uma cliente o havia contratado para criar a iluminação de um salão de festas e, além disso, pediu ao arquiteto “uma cadeira desmontável e de fácil armazenamento”. Denis, que se diz um apaixonado por mobiliário, foi além da simples entrega, afinal cadeiras assim já existem. Mas ele colocou a mão na massa, pesquisou incontáveis formas de produzir a tal cadeira, que acabou batizada de Kuka. Nesse processo de concepção, criação e desenvolvimento de produto ele acabou descobrindo o mundo novo da fabricação digital, possível graças à uma máquina chamada CNC, uma fresadora que corta chapas a partir de um arquivo digital. Com a cliente satisfeita e o projeto entregue, Denis começou a divulgar a cadeira nas mídias sociais, e isso chamou a atenção de uma amiga de faculdade, Beatriz Guedes, 26 — hoje uma das parceiras do Studio. Bia se encantou com a cadeira e queria ter uma Kuka pra chamar de sua, mas havia um detalhe: ela estava em Barcelona, na Espanha, onde cursava uma especialização. Foi nesse momento que Denis teve um insight: por que não (re)produzir a cadeira em outros lugares do mundo? Trataram de encontrar um produtor local que tivesse uma CNC e o pedido da amiga se tornou realidade. Esse episódio foi o divisor de águas para Denis, que decidiu enviar o arquivo do seu projeto para FabLabs (laboratórios de inovação pra criação de protótipos) do mundo todo.
Sua cadeira, a primeira de uma série que viria posteriormente, chamou a atenção de Nikolas Ierodiaconou, ganhador do Ted City Prize pelo projeto WikiHouse de fabricação open source. Nick é também um dos fundadores da OpenDesk, hoje a maior plataforma de mobiliários para produção local open source. Denis conta que apostou nesse caminho para divulgar o trabalho, um caminho que não requer investimento em marketing, mas que pressupõe uma visão avançada do que é propriedade. Nem todo mundo entendeu:
“Meus amigos e minha família acharam que eu estava louco. Eles não conseguiam entender os motivos pelos quais eu liberaria gratuitamente um projeto ao qual me dediquei três meses para realizar”
Naquele momento, em outubro de 2013, a OpenDesk estava ainda em fase de incubação e Denis foi convidado a participar da elaboração da plataforma. A missão de Denis era encontrar uma forma de minimizar erros na hora de montar os móveis projetados pelos designers. Isso porque a espessura dos materiais pode variar de país para país, o que pode comprometer a entrega final. “Hoje, a plataforma oferece um descritivo para os makers (produtores locais) para que eles saibam como proceder a caso a espessura da chapa seja diferente daquela descrita no projeto original”, diz ele.
Em dois meses na plataforma, as duas cadeiras de sua autoria, Kuka e Valoví, tiveram 5 mil downloads e foram produzidas em mais de 100 países. Há seis meses, Denis tornou-se representante da OpenDesk no Brasil. Ele, afinal, estava certo: em pouco tempo viu seu trabalho ganhar escala mundial. Uma dessas cadeiras, a Valoví, foi exposta no Salão de Milão de Móveis em maio de 2015. Ela é composta por 20 peças de madeira que se encaixam na montagem, feita sem nenhum tipo de prego, parafuso ou cola. No Salão, foi a única peça assinada por um designer estrangeiro a ser produzida localmente. “A nossa profissão ainda está muito atrasada no que se refere à cadeia de produção”, afirma Denis. Ele fala mais sobre como a filosofia que abraçou:
“Design aberto é transferência de conhecimento. É empoderar o outro ao liberar seu potencial criativo, permitindo que as pessoas possam usar e adaptar esse conhecimento da melhor forma às suas necessidades”
O arquiteto é um entusiasta do conceito e fez dele seu modelo de negócio, a partir da oportunidade que se abriu com a OpenDesk. Com o propósito de conectar designers, produtores locais e clientes, a plataforma elimina intermediários e os custos de exportação e importação, minimizando também custos de logística e distribuição, o que é bom para o bolso de todos os envolvidos e para o meio-ambiente. “O design aberto não se resume ao livre acesso, mas também incentiva a democratização da produção e as economias locais”, conta o empreendedor.
Via: Projeto Draft